quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sociedade em rede e modo de desenvolvimento informacional

Sociedade em rede e modo de desenvolvimento informacional

Existe um considerável conjunto de descrições e análises das estruturas sociais emergentes na passagem do século vinte para o vinte e um que destacam o fato de as sociedades contemporâneas estarem sendo palco de extraordinárias transformações econômicas, políticas, culturais, sociais e tecnológicas.

Nas últimas décadas do século vinte foram vários os autores que, sob diferentes perspectivas, estudaram esta transformação radical do modo de produção do social e identificaram nela uma ruptura com os padrões da sociedade industrial.

A tecnização, informatização e globalização da sociedade colocam o conhecimento em posição privilegiada como fonte de valor e de poder e provocam profundas alterações na organização do trabalho, com a passagem do modelo taylorista-fordista para o modelo da especialização flexível .

No modelo taylorista, característico da sociedade industrial, a organização do trabalho baseava-se numa rígida repartição das tarefas, numa nítida hierarquia de funções e numa forte divisão entre planejamento e execução (trabalho intelectual e trabalho manual).

Já o paradigma informacional, característica central das sociedades baseadas no conhecimento, exige (e possibilita) uma nova organização do trabalho - com a integração sistêmica de diversas unidades, práticas gerenciais interativas, equipes responsáveis por um ciclo produtivo completo e capazes de tomar decisões, produção e utilização intensiva de informações, ênfase na capacidade de mudar rapidamente de funções (flexibilidade) - e uma profunda reorganização do processo educativo, das relações sociais entre gêneros e idades, e dos sistemas de valores .

Chamada de sociedade pós-industrial , sociedade informática , sociedade do conhecimento , sociedade tecnizada ou sociedade em rede , a nova forma social que estes autores vislumbram sob estas transformações é a de uma sociedade globalizada, altamente tecnizada, com a ênfase da produção econômica recaindo sobre o setor de serviços e com utilização intensiva do conhecimento através das inovações tecnológicas oferecidas pela microeletrônica, pela informática e pelas novas tecnologias de comunicação.

As três últimas décadas do século vinte, mostram as sociedades humanas em meio a uma acelerada e dinâmica revolução da microeletrônica na qual as possibilidades de desenvolvimento são enormes, como são também enormes os perigos inerentes a elas, não só nos aspectos tecnológicos mas também nas relações sociais, uma vez que as transformações da ciência e da técnica, com as conseqüentes transformações na produção e nos serviços deverão conduzir a transformações também nas relações sociais.

A 2ª Revolução Industrial, em curso no final do século vinte, está conduzindo a uma ampliação das capacidades intelectuais do ser humano bem como à sua substituição por autômatos, aspirando a eliminação total do trabalho humano numa sociedade informática.

Mesmo que se possa concordar que mudanças na formação cultural das sociedade informatizadas poderão materializar o ideal de um cidadão universal bem informado e com formação global e que a informática pode abrir espaço para o exercício de formas de democracia direta em governos locais, é importante ter presente, que a atual revolução tecnológica de modo algum nos conduz automaticamente a uma forma superior de democracia.

Ao contrário, se não houver a ação política dos partidos populares e das entidades organizativas dos trabalhadores, um desenvolvimento possível para a sociedade informática é a divisão social entre quem tem e quem não tem acesso à tecnologia (a atualmente chamada exclusão digital).

Estamos observando a emergência de um novo padrão internacional de competitividade capitalista, caracterizado pela redefinição do modelo de indústria, a expansão do terciário e alterações na estrutura de empregos, nas relações trabalhistas, na estrutura ocupacional e nas definições de trabalho qualificado e trabalho desqualificado, tudo isso resultando em uma mudança substancial no padrão de exploração da classe trabalhadora em escala mundial .

O atual padrão de exploração da força de trabalho - resultante das modificações na base técnica provocadas pela introdução da microeletrônica e da informática - baseia-se no trabalho flexível e integrado.

Tornado possível pela versatilidade dos equipamentos, passíveis de reprogramação via software o trabalho flexível e integrado implica na habilidade para o desempenho de várias funções simultâneas e conexas e na intercambialidade dentro do coletivo de trabalho e apresenta novas exigências aos trabalhadores, como a capacidade de seleção, tratamento e interpretação de informações, comunicação e integração grupal, a antevisão de problemas, a capacidade de resolução de imprevistos, a atenção e a responsabilidade, além das variáveis de tipo comportamental como abertura, criatividade, motivação, iniciativa, curiosidade e vontade de aprender e de buscar soluções.

As mudanças na organização do trabalho e a introdução de novas tecnologias de gestão e de produção exigem um novo estilo de trabalhador, que necessita de habilidades gerais de abstração, comunicação e integração.

Estas habilidades são próprias de serem aprendidas na escola durante a instrução regular, e esta é a raiz do recente interesse das classes dominantes pela qualidade escolar, ao contrário do período anterior ao esgotamento do padrão taylorista-fordista, no qual a educação desempenhava um papel periférico, pois o trabalhador não precisava de grandes conhecimentos técnicos ou de habilidades especiais, sendo preparado na própria linha de produção através do treinamento.


Heron e Danilo

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